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Foto do escritorNelson Pereira

O Luto e a sua importância.


A morte é um tema tabu para muitas pessoas devido à dor associada, mas se temos dor não será ela adaptativa? Que impacto tem se a ignorarmos consciente ou inconscientemente? Vejamos uma abordagem possível neste tema sensível e importante. O luto é por definição uma adaptação à perda, envolvendo uma série de tarefas ou fases para que tal aconteça, é um processo que não tem um tempo normalizado, é um processo individual, de cada um e está tudo bem assim pois cada um de nós tem o seu tempo para se habituar à perda. É de uma necessidade primária para que nos adaptemos a essa realidade que é a perda de alguém querido para nós, apesar de também podermos extrapolar para o términus de uma relação ou outros casos, o luto que vou aqui abordar refere-se directamente à morte.


Na minha opinião, este é um tema tabu no nosso país, tenho sentido isto desde tenra idade pois sempre ouvi que falar de morte “é atrair a morte”, “isso é um tema que não interessa”, entre outras expressões que nos levaram a esta situação: as pessoas lidam mal com a morte porque (1) não falam dela abertamente; (2) têm medo de falar; (3) constringem emoções. De acordo com autores que estudaram e estudam o luto, o seu processo é visto como um mecanismo extremamente valioso e protector, sem, no entanto, negligenciar a dor e o aspecto desagradável que o caracterizam. É precisamente o negligenciar da dor que contribui para o luto patológico, em vez de um luto normal no qual aceitamos a dor associada bem como outros sentimentos comuns que passo a descrever:


Tristeza – O sentimento mais comummente encontrado no enlutado, muitas vezes manifestando-se através do choro;

Raiva – Um dos sentimentos mais confusos para quem está em luto, estando na raiz de muitos problemas no processo de sofrimento após a perda; a raiva advém de duas fontes: da sensação de frustração por não haver nada que se pudesse fazer para prevenir a morte e de um tipo de experiência regressiva que ocorre após a perda de alguém próximo (semelhante ao que acontece quando uma criança se perde da mãe e no reencontro pontapeia-a e mostra-se zangada em vez de se mostrar feliz e ter uma reacção de amor por a ver, devido à ansiedade e pânico sentidos pela criança antes da mãe a encontrar) em que a pessoa se sente indefesa, incapaz de existir sem o outro e experimenta a raiva que acompanha estes sentimentos de ansiedade; formas ineficazes de lidar com a raiva são deslocá-la ou direccioná-la erradamente para outras pessoas, culpabilizando-as pela morte do ente querido ou virá-la contra o próprio, podendo, no extremo, desenvolver comportamentos suicidas;

Culpa e autocensura – Normalmente, e principalmente no início do processo de luto, há um sentimento de culpa por não se ter sido suficientemente bondoso, por não ter levado a pessoa mais cedo para o hospital, etc.; na maior parte das vezes, a culpa é irracional e irá desaparecer através do teste com a realidade;

Ansiedade – Pode variar de uma ligeira sensação de insegurança até um forte ataque de pânico e quanto mais intensa e persistente for a ansiedade, mais sugere uma reacção de sofrimento patológica; surge de duas fontes: da pessoa temer ser incapaz de tomar conta dela própria sozinha e de uma sensação aumentada da consciência da mortalidade do próprio;

Solidão – Sentimento frequentemente expressado pelos sobreviventes, particularmente aqueles que perderam os seus cônjuges e que estavam habituados a uma relação próxima no dia-a-dia;

Fadiga – Pode, por vezes, ser experimentada como apatia ou indiferença; um elevado nível de fadiga pode ser surpreendente e angustiante para uma pessoa que é normalmente

muito activa;

Desamparo – Está frequentemente presente na fase inicial da perda;

Choque – Ocorre mais frequentemente no caso de morte inesperada, mas também pode existir em casos cuja morte era previsível;

Anseio – Ansiar pela pessoa perdida, desejá-la fortemente de volta é uma resposta normal à perda; quando diminui, pode ser um sinal de que o sofrimento está a chegar ao fim; Emancipação – A libertação pode ser um sentimento positivo após a perda; por exemplo, no caso de uma jovem que perde o seu pai que era um verdadeiro tirano e a oprimia por completo;

Alívio – É comum principalmente se a pessoa querida sofria de doença prolongada ou dolorosa; contudo, um sentimento de culpa acompanha normalmente esta sensação de alívio;

Torpor – Algumas pessoas relatam uma ausência de sentimentos; após a perda, sentem-se entorpecidas; é habitual que ocorra no início do processo de sofrimento, logo após tomar conhecimento da morte; pode ser uma reacção saudável bloquear inicialmente as sensações como uma espécie de defesa contra o que de outra forma seria uma dor esmagadora e insuportável.


Identificaste-te com estes sentimentos? Se sim, e se estás a passar por um processo de luto neste momento, já viste que é natural e benéfico senti-los? O problema é bloquear durante muito tempo as emoções e sentimentos associados ao processo de luto. É justamente esse processo que vai permitir superar esta fase mais difícil das nossas vidas, mas que não é eterna. Procura ajuda pois esse é um sinal de coragem


Disse Viktor Frankl “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional.”

Obrigado por estares desse lado!

Vamos fazer psicoefeito!!!

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