Sim, o que nos leva a conversar? O que há de tão especial nisso? Comecemos por diferenciar falar de conversar, isto é importante porque hoje em dia utilizamos alguma linguagem que não vai no sentido da conversa, a verdadeira. Falar é um conjunto articulado de palavras no qual existe um emissor e receptor, é apenas e só colocar no exterior ideias, pensamentos, opiniões e afins, por assim dizer. Conversar é diferente, é empático, tem em si também um receptor e emissor, articulação de palavras, mas acima de tudo é um momento no qual não deve existir qualquer pressa em responder a algo que muitas vezes nem foi perguntado, ou argumentar, ou “atropelar” o outro que fala connosco, é deixar fluir o diálogo de forma natural com grandes ouvidos e pequenas bocas. É criar empatia com o(s) outro(s), de tal forma que o tempo passa sem se dar por isso, a conversa é como um Rio que flui para o Mar, é uma característica humana que nos diferencia de todos os outros animais, é algo que em certa medida nos faz sentir bem, ouvidos, compreendidos, aceites apesar das nossas divergências por vezes necessárias para ampliar o nosso campo do conhecimento.
Esta partilha de palavras articuladas na qual nos sentimos bem, faz (ou devia fazer) parte do nosso quotidiano, o que me parece é que nos nossos dias as pessoas querem ser mais interessantes do que interessadas, isto é, o que origina sermos pessoas interessantes é o facto de nos mostrarmos interessados no outro, em conversa e não apenas falando, em acções, e não é preciso muito nem exige nada de especial, basta simplesmente ouvir e não escutar, ver e não somente olhar. Quem se sente visto, quem sente que o estão a ouvir tem mais vontade de conversar, de dizer as suas opiniões, de ter uma conversa com principio, meio e fim, e não somente falar, é como existir um porquê para tudo o que fazemos, se conversamos com alguém é porque consciente ou inconscientemente existe um propósito, há um sentido, queremos acrescentar algo ao silêncio, mas algo construtivo que nos permita ajudar e ser ajudado de forma reciproca, sem se pedir nada em troca pois no final de uma conversa fica sempre algo nas nossas mentes. E porque razão fica algo? Pela simples razão de termos ouvido alguém, visto essa pessoa, tanto como emissores ou receptores os humanos gostam disso, isso cria laços afectivos que não se explicam em poucas palavras, são ligações naturais resultantes de uma interacção construtiva.
“Vamos falando”, diz-se isto amiúde hoje em dia, mas o que é que isso significa? Vamos respirando também, vamos comendo também, vamos fazendo muitas coisas, todos os dias a todo o tempo. Carl Jung, Psicólogo na vertente psicanalítica e social, desenvolveu a teoria do inconsciente social, a qual basicamente, explica a forma como somos influenciados pelos outros, uma vez que como animais sociais vamos deixando sempre algo de nós nos outros, e por vezes sob a forma de influência, disse “Todos nascemos originais, mas morremos cópias”. Pegando nesta expressão “Vamos falando”, sou tentado a dizer que a mesma se espalhou de forma avassaladora, pessoalmente já a ouvi muitas vezes, e dei por mim a pensar no seguinte: Aquela pessoa disse-me “Vamos falando” porque quer falar mais comigo? Será que não quer e não sabe dizer de outra forma “matando” assim uma conversa? Ou simplesmente diz isso porque não tem nada mais a dizer e termina uma conversa com esta expressão que em si diz muito e pode não dizer nada? Resolvi questionar pessoas da minha vida social, cheguei à conclusão que muitas delas não sabem o que querem dizer quando utilizam essa expressão, então porque o fazem? O que leva alguém a usar uma expressão que nem sabe o que significa… para ela mesma? Nada? É que do nada, nada vem, portanto, fico sem saber! Já se questionaram sobre isso? Fica o desafio.
Para mim conversar é algo natural, é intrínseco, desde logo porque tenho consciência do diálogo interno, aquele que mantenho comigo, e isso é um bom começo para saber que tipo de diálogo tenho com os outros. A expressão “Vamos falando” não a utilizo. A conversa deve ser um momento de partilha de um conjunto de características humanas que vamos desenvolvendo ao longo do tempo, de assuntos em comum ou não, de opiniões, preocupações, alegrias, momentos, acontecimentos, decisões, enfim, um sem numero de momentos de vida que queremos dar a conhecer a outros e não somente falar, como disse anteriormente, isso é apenas um conjunto de palavras articuladas e, do meu ponto de vista, redutor para esta capacidade humana maravilhosa que é conversar.
“Génio, pode ser a capacidade de dizer algo profundo de forma simples.” Charles Bukowski
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